'No Kings': por que manifestantes se fantasiam de sapo, unicórnio e galinha nos protestos contra Trump?
20/10/2025
(Foto: Reprodução) Milhares saem às ruas nos EUA e na Europa em protestos ‘No Kings’ contra Donald Trump
Um sapo usando uma coroa, um galo vestido com as cores da bandeira americana, dois tubarões atravessando uma ponte correndo: todas essas cenas foram registradas durante os protestos "No Kings", realizados contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no sábado (18), em várias cidades americanas. Havia ainda unicórnios, girafas, dinossauros T-REX e cachorros quentes humanos.
Não foi exatamente algo aleatório —mas sim estratégia: a ideia foi evitar que apoiadores de Trump retratassem os protestos como violentos, disseram autoridades do Partido Democrata ao jornal "The Washington Post". Os democratas fazem oposição ao Partido Republicano, de Trump.
Republicanos e apoiadores do governo vêm chamando os eventos de "manifestações de ódio" aos Estados Unidos.
"A questão é a tolice. Todos esses caras do MAGA [grupo de apoiadores de Trump] estão por aí dizendo: 'Essas cidades não têm lei, são perigosas'… É como se você estivesse igualando o absurdo da coisa", afirmou o estrategista democrata Mike Nellis.
🔍Contexto: grandes multidões de manifestantes fizeram atos em cidades dos EUA no sábado (18) em protestos chamados de "No Kings" ("Sem Reis"). Os participantes criticam o que veem como uma guinada ao autoritarismo na gestão do presidente Donald Trump. Os manifestantes lotaram a Times Square, em Nova York, e se reuniram aos milhares em parques de Boston, Atlanta e Chicago. Grandes atos também foram registrados em Washington e no centro de Los Angeles.
Manifestantes fantasiados de sapos e segurando placas como 'Sapos unidos são mais fortes' e 'Sapos, não fascistas'
REUTERS/John Rudoff
O movimento ganhou força depois que viralizou um vídeo de um manifestante usando uma fantasia inflável de sapo sendo contido com spray de gás de pimenta por agentes do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) em Portland.
Brooks Brown, um streamer da cidade, criou até uma iniciativa para pedir doações para comprar as fantasias e fornecê-las gratuitamente para as pessoas usarem em protestos contra o ICE.
"Isso atravessa qualquer narrativa. Você não pode dizer: 'Olha, é a Antifa, a organização terrorista'. Quando você tem os infláveis, todo mundo começa a dançar e, mesmo as pessoas mais sérias, continuam o que estão fazendo, são disciplinadas... mas não estão com raiva. Não há uma vibração raivosa por trás delas", acredita ele.
Manifestantes de várias idades estão usando as fantasias
REUTERS/John Rudoff
Ao "Post", estrategistas políticos de ambos os lados acreditam que as fantasias são uma forma eficaz de protestar contra o governo Trump.
“Tudo é tão sombrio que, ao fazer isso de forma divertida e engraçada, você atrai mais pessoas”, elogia o democrata Andy Barr.
Terry Sullivan, um estrategista republicano, disse que o uso de fantasias infláveis é “inteligente” e “dá mais força à história”:
“Quando você consegue dar um exemplo visual, ajuda. É uma tentativa de chamar a atenção para os protestos, para que não pareçam e enquadrem a situação de forma que não seja apenas um bando de pessoas furiosas com cabelos roxos atirando pedras".
Fantasias infláveis de urso, águia e dinossauro T-Rex
REUTERS/Carlos Barria
Em Washington, Jonathan Matias, 45, estava no meio da multidão que dominou a Avenida Pensilvânia no sábado, vestindo uma fantasia de banana e segurando um cartaz que dizia: "A América NÃO é uma República das Bananas". Ele defende a ideia:
"É uma ótima maneira de dizer: 'Ei, não somos violentos. Não somos terroristas domésticos. Não somos pró-Hamas, essas coisas que você está dizendo. Somos americanos pacíficos e amigáveis da vizinhança'".
Procurada para falar sobre os protestos e comentar o uso das fantasias, em um comunicado, a Casa Branca criticou a tendência:
"É impressionante como esses 'manifestantes' constantemente encontram maneiras de parecerem ainda mais idiotas", disse a porta-voz Abigail Jackson.
Esta foi a terceira mobilização em massa desde a volta de Trump à Casa Branca, e ocorreu em meio a uma paralisação do governo que não só fechou serviços federais, mas também testa o equilíbrio de poderes, enquanto um Executivo agressivo confronta o Congresso e os tribunais de forma que organizadores dos protestos alertam ser um deslize rumo ao autoritarismo.
💰 A paralisação do governo americano, conhecida como shutdown, ocorreu após o Congresso não conseguir aprovar um projeto orçamentário para estender o financiamento federal. Com o governo impedido de gastar, milhares de servidores públicos foram colocados em licença, enquanto outros, que trabalham em serviços essenciais, podem ter os salários suspensos.