Os impactos do trabalho na saúde mental: como problemas em empregos têm adoecido brasileiros
12/11/2025
(Foto: Reprodução) Edição de 11/11/2025
O Profissão Repórter desta terça-feira (11) mostrou histórias de quem teve a saúde mental afetada pelo ambiente profissional, um problema que afasta do emprego quase meio milhão de brasileiros por ano.
'Falei que não queria mais'
A equipe conversou com docentes que se queixaram de desenvolver quadros de depressão, ansiedade ou crise de pânico desencadeados por episódios que vivenciaram dentro das salas de aula. Os números reforçam os relatos: entre janeiro de 2024 e fevereiro de 2025, foram concedidas mais de 34 mil licenças médicas relacionados a diagnósticos de saúde mental concedidas para professores da rede municipal de São Paulo.
Esse é o caso de uma professora de 58 anos, que a reportagem conheceu. Ela se encontra em acompanhamento médico após ser diagnosticada com quadro de ansiedade generalizada, com sinais de estresse intenso, descontrole emocional e crises de pânico relacionadas ao serviço. A alta médica cita que o quadro foi agravado por questão de violência por parte de aluno.
"A agressão foi verbal e aquela coisa de colocar o dedo no meu nariz , no meu rosto e eu sempre me esquivando, pedindo para ter paciência, porque daquilo, que não era necessário e foi aí falei que não queria mais", conta.
Apesar do psiquiatra recomendar 60 dias de afastamento, o perito concedeu apenas um mês. Mas a professora afirma que não se imagina voltando para a sala de aula e já deu entrada no pedido de aposentadoria. Ela conta que já cumpriu todos os requisitos e aguarda ansiosa a aprovação
“Para mim, infelizmente, eu não vou fechar meu ciclo com boas lembranças. Eu gostaria de sair da docência com orgulho.”
A professora da Faculdade de Educação da USP, Caroline Fanizzi , estuda justamente o sofrimento dos professores. E ela acredita que é muito importante não individualizar a questão culpando os professores
"Uma pergunta central para gente se colocar em face desse fenômeno de sofrimento docente é 'que lugar a sociedade está atribuindo aos professores e professoras?'. É um problema psíquico bastante relacionado a uma ausência de autonomia que os professores sentem dentro das escolas, uma ausência de reconhecimento daquilo que os professores exercem em seu oficio”, afirma.
'Falei que não queria mais': professora relata violência sofrida por aluno
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'A gente tem que cuidar de doente, mas não pode adoecer'
A reportagem também conversou com profissionais de saúde que foram afastados de suas funções devido a problemas de saúde mental, como a técnica de enfermagem Leonora Silva.
“Eu era a técnica da hemodiálise, caso de alta complexidade. Então, eu ficava dentro do CTI e lá, na pandemia, era uma demanda muito grande. Tinha muito óbito e isso vai aumentando a ansiedade nossa.”
Leonora lembra da primeira crise que teve durante um plantão:
“Eu comecei a sentir falta de ar, não sabia o que estava acontecendo comigo. Me levaram para a emergência e o médico falou: ‘O que você está tendo é crise de ansiedade. Você tem que procurar um psiquiatra’.”
A técnica de enfermagem conta que ainda trabalhou por mais um ano após o episódio, até ser afastada em dezembro de 2024.
"Eles não acreditam no profissional. Acham que a gente está fazendo corpo mole e essas coisas. E a gente não pode ficar doente. A gente tem que cuidar de doente, mas não pode adoecer", desabafa.
Leonora foi diagnosticada com transtorno de ansiedade e depressão. Segundo ela, desde que foi afastada do trabalho, passa os dias dentro de casa.
"Eu só fico deitada no escuro. Eu não quero sair, não quero receber ninguém, só fico ali".
'A gente tem que cuidar de doente, mas não pode adoecer': Profissão Repórter acompanha profissionais afastados após problemas de saúde mental
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'A saúde mental é vista como um tabu ainda'
Alessandra Félix é policial militar há três anos e precisou se afastar do trabalho nas ruas depois de ser diagnóstica com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG).
“Às vezes é preciso que alguém de fora venha e diga: ‘Você não está bem, seu olhar está triste. O que está acontecendo?'. Ate quando você vai olhar e falar ‘está tudo certo’. Quando realmente chegar a conta? Infelizmente, a saúde mental é vista como um tabu ainda", diz a policial.
Hoje, ela participa de rodas terapêuticas promovidas pela Associação Integrada de Mulheres de Segurança Pública em Sergipe. O grupo reúne mais de 200 agentes, entre elas, policiais, bombeiras e profissionais de segurança. Duas psicólogas que também são agentes de segurança, conduzem a conversa.
"A gente entendeu que precisava dar um suporte maior porque essa demanda que cresceu, a gente viu o adoecimento de algumas militares, algumas policiais que chegavam até nós para procurar suporte psicológico porque tinha não só a carga do trabalho, a dupla jornada, situações normais do cotidiano da mulher, com família, relacionamentos, financeiro”, explica Svetlana Barbosa Silva, diretora da associação e policial militar há 29 anos.
'A saúde mental é vista como um tabu ainda', diz policial diagnosticada com transtorno de ansiedade
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Outro lado
A Secretaria Estadual de Educação informou que desde 2024 oferece atendimento psicológico e psiquiátrico para os servidores, e que já foram realizados mais de 650 mil teleatendimentos. Disse ainda que tem um projeto que oferece orientações sobre saúde integral e incentiva o equilíbrio entre vida pessoal e profissional: a de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar.
Procuramos a Secretaria de Gestão do Estado para saber sobre essa divergência entre o pedido do médico particular e a perícia. Eles informaram que os peritos oficiais definem, de forma técnica e imparcial, a necessidade e o período de afastamento.
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