TERMÔMETRO DA COP30 #DIA 2: diplomacia brasileira começa bem e arte vira protesto em Belém
11/11/2025
(Foto: Reprodução) TERMÔMETRO DA COP30 #DIA 2
Olá, aqui quem escreve é Roberto Peixoto, repórter de Meio Ambiente no g1. Este é o Termômetro da COP30, edição #DIA 2, um boletim com o essencial que você precisa saber sobre a Conferência do Clima em Belém, que começou na última segunda-feira (10).
Neste segundo dia, para facilitar, vamos novamente com tudo bem resumido em 7 tópicos. Na edição desta terça-feira (11), te contamos a história da pequena Zagtxo, de 3 anos, explicamos qual foi o "gol" da presidência da COP no dia de ontem e mais.
1 - Em alta X em baixa
EM ALTA: 🌎 A visão dos especialistas é de que a diplomacia brasileira começou bem a COP30. Logo no primeiro dia, conseguiu o que muita conferência leva tempo para alcançar: aprovar a agenda oficial das negociações. Pode parecer detalhe, mas não é. Quando os países brigam sobre o que entra ou não na pauta, todo o processo emperra. Desta vez, não houve essa disputa. Como disse o Greenpeace, é um “sinal positivo de união e direção” para uma conferência que começou com o pé direito.
EM BAIXA: Havia expectativa de que o Brasil trouxesse para a negociação aspectos da proposta de mobilizar ao menos US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 para financiar ações contra a crise climática, com foco nos países em desenvolvimento. Mas as perspectivas de avanço são remotas.
"O que foi aprovado pelos países foram os US$ 300 milhões. O US$ 1,3 trilhão está sendo analisado. Eu gostaria, nós gostaríamos que fosse mais, o mundo em desenvolvimento gostaria que fosse mais. Mas no momento é isso. Vamos ver como é que evolui”, disse o presidente da COP, André Correa do Lago em entrevista para Barbara Carvalho, da GloboNews.
2 - Brisa de esperança
Zagtxo, de 3 anos, participa pela terceira vez da COP e luta pela preservação da araucária
Nos corredores da conferência do clima em Belém, uma cena chamou a atenção das enviadas especiais do g1 à COP, Paula Paiva Paulo e Poliana Casemiro: a pequena Zagtxo, cujo nome significa Floresta de Araucária, circulando com sua credencial entre as delegações.
Filha de Isabel Gakra, do povo Laklãnõ/Xokleng, Zagtxo já participou de três encontros do tipo: em Dubai, Baku e agora na Amazônia.
Isabel contou às repórteres que leva a filha a esses espaços como forma de resistência e aprendizado: “[A nossa] tradição oral é levar os nossos filhos porque, afinal de contas, o planeta vai ser entregue na mão deles, das crianças".
3 - Traduz aí, g1
O QUE É A REGRA 16? : Nas conferências do clima, tempo é um dos bens mais escassos. Cada frase dos acordos precisa ser aprovada por consenso entre quase 200 países, e nem sempre isso acontece a tempo.
É aí que entra a Regra 16: o jeito diplomático de dizer que o assunto ficou travado. Quando o relógio corre, o consenso não vem e o texto não chega à plenária, aplica-se essa regra: o tema é adiado para uma próxima sessão.
Na prática, é como apertar o botão de pausa. Na sessão seguinte, os países retomam o debate, às vezes do zero, ouvindo todas as partes de novo, ou a partir da última versão de texto deixada em aberto.
Ou seja, num sistema guiado por consenso, nem todos os impasses se resolvem na hora, algo que garante que nenhum tema seja simplesmente descartado, só adiado para um novo round de negociação.
4 - Pergunta do dia: por que os EUA não estão na COP?
Um leitor do TERMÔMETRO quis entender por que algumas grandes potências, como os Estados Unidos, estão de fora da conferência.
A ausência do governo americano em Belém não é um acaso, mas uma decisão política. Desde que voltou à Casa Branca, Donald Trump rompeu novamente com o Acordo de Paris, suspendeu metas de redução de emissões e desmontou programas de energia limpa criados na gestão Biden.
A estratégia atual aposta na expansão de petróleo, gás e carvão e, por isso, enviar uma delegação à conferência do clima da ONU seria visto como contraditório com o discurso interno de Washington.
Ainda assim, há vozes americanas presentes na cúpula. Uma delegação informal formada por líderes estaduais e ex-integrantes do governo Obama participa das discussões em Belém.
Estou aqui (no Brasil) por conta da ausência de qualquer liderança do governo dos EUA, é um vácuo. É de deixar o queixo caído. Nem um representante, nem um espectador para tomar notas foi levado a Belém.
Quer mandar sua pergunta? Envie pelo VC no g1 ou nos comentários desta reportagem
5 - Protesto do dia
Manifestantes deitados no chão e cobertos por lençóis protestam no primeiro dia de Cúpula do Clima, em Belém.
IVAN PISARENKO/AFP
🦖 Na última segunda não teve "Fóssil do dia", o "prêmio" simbólico e irônico, concedido diariamente durante as conferências climáticas da ONU. Normalmente, ele só é anunciado no segundo dia, já que as indicações são feitas no primeiro, e deve sair hoje, como de praxe nas COPs.
Apesar disso, coberto por lençóis, um grupo de ativistas vindos do México realizou um protesto em frente à entrada da Zona Azul, simbolizando defensores ambientais mortos ou perseguidos.
Em outras COPs, como Dubai e Baku, manifestações desse tipo chegaram a ser restringidas. Em Belém, o ato ocorreu de forma pacífica. (Leia a reportagem do g1 PA)
6 - Você precisa assistir
Conheça as erveiras do Ver-o-Peso
As ruas de Belém também têm seus símbolos da COP30. E um deles vem das bancas coloridas do Ver-o-Peso, onde o cheiro de arruda, alecrim e priprioca se mistura ao ar quente da Amazônia.
Na reportagem acima da Paula Paiva Paulo (a nossa PPP), você conhece as erveiras do mercado: mulheres que mantêm viva uma tradição ancestral de misturar ervas e óleos em pequenos frascos com nomes curiosos como “chama dinheiro”, “chama gringo” e “passa no concurso”.
Durante a COP30, até o príncipe William recebeu um desses vidrinhos: o “cheirinho Atrai Políticas Públicas para a Juventude”, criado por jovens do Instituto Cojovem.
7 - Além da imagem
Cinzas da Floresta, obra criada com cinzas reais de queimadas em biomas brasileiros, é exibida na Blue Zone da COP30, em Belém.
Renata Vedovato/Divulgação
MAIS DO QUE UMA FOTO: No primeiro dia da COP30, o artista e ativista Mundano começou a pintar um mural na Blue Zone usando cinzas de queimadas ocorridas na Amazônia. O material foi coletado no Território Indígena Anambé, em Moju (PA), onde o fogo ilegal destruiu 40 mil hectares em 2024. A obra, chamada Cinzas da Floresta, está aos poucos transformando que restou da destruição em arte, um registro simbólico da emergência climática.
Amanhã, acompanhe mais um TERMÔMETRO DA COP30 com um apanhado de tudo o que rolou no segundo dia da cúpula.
Até lá!
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